Pré-natal odontológico: saúde para mãe e bebê
Em um contexto de grandes mudanças que caracteriza a gestação, é importante lembrar que a boca também sofre algumas alterações, todas elas influenciadas pelas novas condições do organismo. Durante essa fase, as novidades hormonais são responsáveis pelo aumento da resposta inflamatória gengival e podem, em maior ou menor grau, predispor ou agravar doenças como gengivite ou doença periodontal. Assim, o pré-natal odontológico é de fundamental importância para garantir a saúde do bebê e da mamãe durante a gravidez. Entenda melhor como é feito esse acompanhamento em entrevista com a odontopediatra Dra. Liliane Narciso e a periodontista Dra. Karina Campos:

Durante o pré-natal odontológico, quantas vezes e em que períodos a gestante deve consultar o dentista e o que será avaliado em cada consulta?

Durante o pré-natal, recomenda-se que a gestante faça manutenções preventivas, de preferência uma a cada trimestre. O dentista deve dar instruções de higiene oral para que ela realize em casa todos os cuidados necessários para uma boa saúde bucal. A prevenção evita o aparecimento de doenças como a gengivite, doença periodontal e cárie, garantindo uma gestação tranquila e influenciando na saúde do bebê que está se formando. Também é o momento de conscientizar a gestante sobre a importância do aleitamento exclusivo, das consequências da oferta da mamadeira e chupetas para o bebê.

A gestante pode receber tratamento odontológico?

O ideal é optar por tratamentos preventivos, no caso de uma gravidez planejada. No entanto, quando houver necessidade de realizar algum procedimento odontológico mais complexo, recomenda-se fazer no segundo trimestre de gestação, por se tratar de um período de maior estabilidade.

Anestesias e radiografias são permitidas durante o tratamento?

Existem anestésicos específicos para serem utilizados em gestantes, o que possibilita os diversos tipos de tratamentos odontológicos, se necessário. Quanto ao exames radiográficos, embora os riscos ligados a radiografias de diagnóstico sejam baixos, os especialistas recomendam que as gestantes adiem ao máximo exames que não sejam urgentes, postergando para após o parto. Mas se for necessário deve ser realizado com a proteção adequada que é o avental de chumbo.

Como a saúde bucal pode afetar a gravidez?

Em virtude das alterações hormonais que ocorrem por todo o organismo da gestante, incluindo as gengivas que ficam mais vascularizadas e sensíveis, as grávidas que não redobram os cuidados com a higiene bucal e a dieta tendem a ter sangramento gengival. Da mesma forma que a gengivite, quando não há maiores cuidados, cresce o risco de a cárie se manifestar, influenciada pelo maior desejo de comer alimentos doces; pela mudança no padrão de higiene oral, que ocorre pelo enjoo que algumas gestantes apresentam com os cremes dentais; e pela boca seca, que altera a capacidade de autolimpeza fornecida pela saliva. Portanto, desde o início da gestação o pré-natal odontológico deve ser feito.

Quais os problemas odontológicos mais comuns na gestação? Por quê?

As alterações hormonais na gestante podem predispor ou agravar a gengivite assim como as demais doenças periodontais. A primeira é uma inflamação gengival caracterizada por inchaço, vermelhidão e sangramento ao mínimo esforço, tal como ao passar fio dental e escovar os dentes. Já a doença periodontal pode ser considerada como um estágio mais avançado da gengivite, em que além do sangramento gengival pode haver perda óssea e mobilidade dental. Essas duas alterações ocorrem quando os agentes causadores (biofilme e tártaro) não são removidos, por isso é importante que a limpeza profissional dos dentes e a prevenção sejam feitas regularmente no pré-natal odontológico.

Qual a relação entre problemas gengivais e parto prematuro?

Nessas doenças encontramos diversas espécies de bactérias, que quando reconhecidas pelo organismo determinam uma reação de defesa que não se restringe à boca, iniciando então uma relação de risco entre doença periodontal e o período gestacional. Esses estímulos inflamatórios podem induzir a uma hiperirritabilidade da musculatura uterina, provocando a contração do útero e dilatação cervical, aumentando então o risco de parto prematuro. Ainda, a infecção e o processo inflamatório podem causar danos à placenta, restringindo também o crescimento fetal. Portanto, não podemos negligenciar o atendimento odontológico e a manutenção de uma boa saúde bucal e geral durante a gestação, tanto para o bebê quanto para a futura mamãe.