Cuidado com as alergias na infância
Entre 30% e 40% dos bebês e crianças pequenas são acometidos por alguma doença alérgica. Por isso, termos médicos, como alergias alimentares, dermatites, rinite, asma, entre outros, já são comuns na rotina de muitos pais, pois tem-se observado um aumento na incidência das doenças alérgicas em geral, em todas as faixas etárias, principalmente na infância. “As causas que determinam o desenvolvimento das alergias são diversas, envolvendo a hereditariedade e outros fatores ambientais”, explica a pediatra especialista em alergia e imunologia Dra. Gisele Kuntze. Saiba como prevenir e cuidar da doença em entrevista completa com a profissional:

Como identificar uma reação alérgica?

Alergias alimentares podem se manifestar de diversas formas - com sintomas digestivos, como a presença de cólicas intensas ou persistentes, distensão abdominal, vômitos, diarreia, constipação - ou com sintomas cutâneos - dermatites, urticária ou ainda na forma de uma reação aguda (anafilaxia). Já as alergias respiratórias muitas vezes são confundidas com quadros infecciosos, como os resfriados, gripes, rinossinusites ou traqueobronquites, pois os sintomas são muito semelhantes - coriza, espirros, obstrução nasal, tosse, chiado no peito e dificuldade respiratória. As alergias dermatológicas, em geral, se apresentam com coceira e manchas na pele.

Normalmente, qual é a principal causa?

A genética familiar é um fator importante. Se ambas as famílias têm um histórico de alergias, a possibilidade de a criança ser alérgica também é muito elevada. Aleitamento materno por pouco tempo, admissão precoce na escola e fatores ambientais também atuam como agentes desencadeantes dos quadros alérgicos.

Uma criança alérgica será sempre alérgica?

As alergias são doenças crônicas, entretanto, a forma como elas se manifestam e sua intensidade variam muito no transcorrer da vida. Muitas das alergias alimentares se resolvem com o crescimento da criança, assim como muitos dos quadros alérgicos cutâneos e respiratórios podem melhorar, principalmente com o crescimento da criança e a redução da frequência das infecções virais. O aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses de vida é fundamental para a prevenção de alergias.

Então o quadro de alergia vai mudando conforme a criança cresce?

É bastante frequente observarmos nas crianças uma sequência de aparecimento de doenças alérgicas - a isso chamamos de marcha alérgica. Inicialmente, o bebê começa a ter manifestações de alergia alimentar, depois dermatite atópica e, em geral, com o passar dos meses, isso tende a amenizar e os sintomas de alergia respiratória, como asma e rinite, começam a se tornar mais frequentes. São manifestações clínicas diferentes de uma condição sistêmica, a alergia, que pode ter múltiplas facetas em todas as fases da vida.

Quais são os produtos que mais causam alergia em bebês e crianças? E os alimentos?

A pele da criança é muito sensível. Produtos contendo muitas fragrâncias, pigmentos e conservantes irritam a pele com frequência. No grupo dos alimentos, a maioria das reações é causada pelo leite de vaca, soja, ovo, trigo, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar.

Qual a diferença entre alergia e intolerância?

A questão alergia versus intolerância gera muita dúvida. O mais comum é a pergunta: “tenho alergia à proteína do leite de vaca ou intolerância à lactose?” Na intolerância à lactose, existe dificuldade do organismo em digerir e absorver o açúcar do leite, o que gera sintomas exclusivamente digestivos, muitas vezes relacionados com a quantidade de alimento consumida. Já na alergia, os sintomas podem ser também digestivos, mas não exclusivamente, e uma mínima quantidade ingerida já pode provocar reações. O trigo, devido à presença do glúten, também pode causar alergia ou intolerância e nesses casos uma avaliação médica é essencial. Também são muito comuns os efeitos colaterais provocados por medicamentos serem confundidos com reações alérgicas.

Como tornar a casa segura para um alérgico?

Isso depende da idade da criança e do tipo de alergia que ela apresenta. Sugiro manter à distância das crianças alérgicas alimentos que elas não podem ingerir e orientar todos os responsáveis sobre os riscos que correm caso ocorra a ingestão acidental do alimento. O mesmo vale para os medicamentos. Já as crianças com alergias respiratórias - em que, na maioria dos casos, a poeira doméstica, o mofo e os pelos de animais causam boa parte das reações - o ideal é ter pisos lisos e sem tapetes, evitar cortinas de tecido e cobertores, ter capas protetoras nos colchões e travesseiros, evitar bichos de pelúcia e limitar o acesso de animais dentro de casa. Sugiro ainda ter sempre disponível medicamentos para o tratamento inicial das crises alérgicas.

Existe vacina contra alergia?

Sim, existem vacinas para alguns tipos de alergia, como contra ácaros, pólens e insetos. O princípio básico é induzir o organismo ao desenvolvimento de tolerância e a resposta é ótima, desde que bem indicada. Os benefícios são a longo prazo, demoram cerca de um ano para se tornaram evidentes, e a vacina deve ser usada pelo prazo de três a cinco anos.

Hora de correr para o hospital

O aparecimento súbito de sinais e sintomas, como inchaço e manchas vermelhas na pele, tosse, chiado no peito, dificuldade respiratória, dor abdominal, vômitos e perda de consciência, deve chamar a atenção para a possibilidade de uma crise alérgica grave (anafilaxia), que coloca em risco a vida da criança.